A
cada dia percebo que a vida é uma festa. Não uma festa comum, ou de alegria
sincera. Mas um luxuoso e exagerado baile de máscaras. Cheio de fantasias,
falsos sentimentos e muitas, muitas máscaras escondendo os mais diversos rostos
humanos. O que vejo são pessoas, que penso que conheço, mas nada conheço além
das máscaras, lindas e bem ornamentadas que trazem na face. Vejo também essas
pessoas numa corrida desesperada atrás de coisas que supostamente as fazem se
sentir melhor, mesmo que de maneira bastante efêmera.
E
os tesouros que buscam são os menos valiosos possíveis, com um valor apenas
simbólico, que atenua as suas frustrações. E no bal masqué interminável
escutam-se risadas, beijos, juras de amor. Os festejantes buscam a felicidade
em bens materiais, a fim de diminuir o efeito de suas incapacidades, buscam a
alegria na bebida e em outros vícios, tentando enganar suas mentes depressivas
e atormentadas, e o amor na luxúria e na lascívia, para tentar, mesmo que
momentaneamente, aplacar a dor da solidão em seus corações. As hipocrisias e
falsidades reinam no lugar, escondendo as traições que movem o pseudo círculo
afetivo que supostamente une essas pessoas. E para completar o cenário
aparentemente leve, usam as mais ornamentadas e ricas máscaras, para mostrar
para uma sociedade que sobrevive de aparências, o quão belas, ricas e sãs elas
são. Mas há momentos em que essas
máscaras não seguram mais nos rostos inchados de seus donos e simplesmente
caem, deixando à mostra todas as feridas, deformações e monstruosidades
presentes nos rostos daquelas pessoas, para pavor e repugnância daqueles que
ainda mantêm a máscara grudada na face.
E assim, todos conhecem de fato quem está por trás das máscaras.
E
ainda há aquelas pessoas corajosas suficiente para frequentarem o baile sem
máscaras, sem fantasias, sem nada. E são elas que mais causam revolta e
repulsão naqueles hipócritas mascarados. Não porque elas tenham rostos
deformados, muito pelo contrário; seus rostos são perfeitos, porém simples, e é
isso o que mais fere o orgulho dos mascarados, que nem isso têm o merecimento
de ter. E para sobreviver, essas pessoas precisam pôr máscaras também, não para
esconder ou fingir ser o que não são, mas para servir como um escudo, que as
protegerá dos vícios, dos pecados externos. E isso não é fácil, e elas sofrem,
chorando muitas vezes lágrimas ardentes... lágrimas de sangue...
Por
isso, vamos ficar à vontade. Vamos tirar as máscaras. Assim, se tivermos feridas em nossos rostos,
essas curar-se-ão, e em vez de um baile de máscaras, falso e medíocre, a vida
se tornará uma verdadeira festa, saturada de sentimentos e alegrias
verdadeiras, e todos aqueles que buscam a felicidade poderão encontrá-la, em um
lugar que jamais procuraram, antes por medo da pútrida que exalava, mas que
agora, sem máscaras, se encontra limpo e puro: seus corações.
Nenhum comentário:
Postar um comentário